A Trane

Train of thoughts. A-Train. Coltrane. A Trane.

Thursday, March 05, 2009

Café

Meu corpo conhece o café. Em outras épocas, café e amendoim, saquinhos de amendoim, entravam em minha circulação. Algum suor, alguma gordura no couro cabeludo. Pessoas ao meu lado que me observam, monitoram esse fluxo. Cheiro minha urina: café, café com amendoim. Meu corpo me alerta e pergunta: como esses novos tempos se relacionam com aqueles tempos? Ele sabe que ao perguntar isso, qualquer resposta será (e deve ser) meio inócua.

Wednesday, November 07, 2007

Meme

"Quando usado nessa dimensão ampliada, o conceito de desencantamento se torna definitivamente um ítem básico do diagnóstico do tempo, e o tema do desencantamento ganha notas de melancolia e pessimismo." (PIERUCCI, 2003, pg. 161, itálicos no original).

Fui convocado pra participar desse meme pelo Augusto, do http://www.blogdoangu.blogspot.com/

A idéia é:
1. Pegar um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2. Abrir na página 161;
3. Procurar a 5ª frase completa;
4. Postar essa frase em seu blog;
5. Não escolher a melhor frase nem o melhor livro;
6. Repassar para outros 5 blogs.

Repasso para:
Kellen - http://vamobrinca.blogspot.com/
Reginaldo - http://aoyume.blogspot.com/

Tuesday, October 02, 2007

¿y si Dios fuera una mujer?

¿Y si dios fuera mujer?
pregunta juan sin inmutarse

vaya vaya si dios fuera mujer
es posible que agnósticos y ateos
no dijéramos no con la cabeza
y dijéramos sí con las entrañas

tal vez nos acercáramos a su divina desnudez
para besar sus pies no de bronce
su pubis no de piedra
sus pechos no de mármol
sus labios no de yeso

si dios fuera mujer la abrazaríamos
para arrancarla de su lontananza
y no habría que jurar
hasta que la muerte nos separe
ya que sería inmortal por antonomasia
y en vez de transmitirnos sida o pánico
nos contagiaría su inmortalidad
si dios fuera mujer no se instalaría
lejana en el reino de los cielos
sino que nos aguardaría en el zaguán del infierno
con sus brazos no cerrados
su rosa no de plástico
y su amor no de ángeles
ay dios mío dios mío
si hasta siempre y desde siempre
fueras una mujer
qué lindo escándalo sería
qué venturosa espléndida imposibe
prodigiosa blasfemia.

Juan Gelman

Monday, January 29, 2007

Mude

Mas comece devagar,porque a direção é mais importanteque a velocidade.
Sente-se em outra cadeira,no outro lado da mesa. Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair,procure andar pelo outro lado da rua. Depois, mude de caminho,ande por outras ruas,calmamente,observando com atençãoos lugares por ondevocê passa.
Tome outros ônibus. Mude por uns tempos o estilo das roupas. Dê os teus sapatos velhos. Procure andar descalço alguns dias.
Tire uma tarde inteirapara passear livremente na praia,ou no parque,e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas. Abra e feche as gavetase portas com a mão esquerda.
Durma no outro lado da cama... depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de tv,compre outros jornais... leia outros livros,Viva outros romances.
Não faça do hábito um estilo de vida. Ame a novidade. Durma mais tarde. Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dianuma outra língua. Corrija a postura. Coma um pouco menos,escolha comidas diferentes,novos temperos, novas cores,novas delícias.
Tente o novo todo dia. o novo lado,o novo método,o novo sabor,o novo jeito,o novo prazer,o novo amor. a nova vida.
Tente. Busque novos amigos. Tente novos amores. Faça novas relações.
Almoce em outros locais,vá a outros restaurantes,tome outro tipo de bebidacompre pão em outra padaria. Almoce mais cedo,jante mais tarde ou vice-versa.
Escolha outro mercado... outra marca de sabonete,outro creme dental... tome banho em novos horários.
Use canetas de outras cores. Vá passear em outros lugares. Ame muito,cada vez mais,de modos diferentes.
Troque de bolsa,de carteira,de malas,troque de carro,compre novos óculos,escreva outras poesias.
Jogue os velhos relógios,quebre delicadamenteesses horrorosos despertadores.
Abra conta em outro banco. Vá a outros cinemas,outros cabeleireiros,outros teatros,visite novos museus.
Mude. Lembre-se de que a Vida é uma só. E pense seriamente em arrumar um outro emprego, uma nova ocupação, um trabalho mais light, mais prazeroso, mais digno, mais humano.
Se você não encontrar razões para ser livre, invente-as. Seja criativo.
E aproveite para fazer uma viagem despretensiosa, longa, se possível sem destino.
Experimente coisas novas. Troque novamente. Mude, de novo. Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores e coisas piores do que as já conhecidas, mas não é isso o que importa. O mais importante é a mudança,o movimento,o dinamismo,a energia. Só o que está morto não muda !
Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco,sem o qual a vida não vale a pena(Clarice Lispector)

Friday, January 27, 2006

O Discreto Charme do Chakras

No dia 24/1 fui ao Chakras, lá no Jardins. Fuja. Sabe, você conhece a teoria da sociologia econômica: firmas que atingem um status mais elevado podem se dar ao luxo de aumentar os preços ou diminuir os custos de transação. O Chakras faz os dois. Os preços são elevados, conveniente para um lugar onde as identidades são "negociadas" e rapidamente hierarquizadas. E os custos de transação são baixos: uma hora e meia de espera pela comida, atendimento meia-boca. Você sabe, a velha lógica do "stacking together check-list requirements": (1) ponto, (2) arquitetura e decoração, (3) um cardápio bonitinho e (4) um pessoal "bonito" (branco e rico) e do "bem" (branco e rico). Acho que eles compraram um Plano Estratégico em algum site no google. Aliás, é o tipo de lugar que você entra e você sabe que existe um plano estratégico, mas não existe aquele fina costura entre os elementos que dão ao lugar uma identidade. Geralmente isso exige um olhar paciente e minucioso, muito além de um plano estratégico. Um restaurante, um lugar que realmente dure deve buscar aquela autenticidade que é (quase) impossível de fabricar. Autenticidade fabricada - boa! O meu ponto é: o lugar é fake. Poucos são os lugares mais requintados que não sejam fake (óbvio: modismo e rápido retorno fazem um casamento tremendo). Mas por que se deixar levar pelos mais oportunistas que tem por ai? Ainda assim, se o melhor amigo da sua irmã insistir em te convidar para ir ao Chakras, exija a parte superior, ao céu aberto. É o melhor ponto da casa. Bata o pé. Seja intransigente.

Monday, January 23, 2006

Em busca do rap - Parte I

Me contaram que o hip-hop é o movimento social urbano de maior expressão hoje em dia. E ouvi falar que tem há ver com a periferia. Mas aonde está a periferia? Fui à zona leste. Fui até Itaquera, quase Miguel Paulista. Vocês lembram. Era periferia: ruas mal asfaltadas, os carros meio caindo aos pedaços estavam misturados com carros do ano. Sobradinhos que durante o dia você não dá nada, à noite abrem botecos e lugares para dançar. Escutei muito forró. Parei perto do Sesc Itaquera, mas era um bar de easy-riders. Mesmo. Nada de rap.
Lendo uns artigos de jornal, me dei conta que havia muito rap no ABC. Fui para São Bernardo. A entrada de SBC expõe casebres paupérrimos. Tijolos à vista, arquitetura irregular, a mesma visão já consagrada no cimena nacional. Mas você o que se espera ver quando se vai de sopetão a uma cidade? Você vai ao centro e espera ver placas verdes colocadas pela prefeitura, dizendo "RAP, à direita", ou "AQUI: PERIFERIA + RAP", ou "PEDÁGIO: Antropólogos e afins pagam R$ 3,50". No centro de SBC, vi apenas lojas, shopping center, aquela doce melancolia de uma cidade quase capital. No shopping center, vou a uma loja de CDs: onde posso ver um show de Rap? Não se toca mais rap em SBC.
Esqueço o assunto por um tempo. Por umas semanas para escrever a tese. Na sexta passada eu fui a uma janta na casa de uns amigos em Perdizes e parei numa banca de jornal para fazer hora. Encontrei uma revista de hip hop na banca. A revista, já na 32a edição. Comprei. Folhava e folhava. Sites de grupos de rap, e-mails para contratar para show, mas não havia anúncios de shows. Havia muitas propagandas de lojas de roupa, e a maioria no Braz. No dia seguinte, peguei meu carro e fui ao Braz. Esperava encontrar o "cluster industrial" do rap. Mas era igual à 25 de março! Tinha até loja de granfino. E as lojas que eu procurava estavam fechadas. Peguei novamente o meu carro, e fui para a Praça Roosevelt. Cheguei lá umas 14. Só dava eu, e mais uns gatos pingados dormindo sob as poucas sombras naquela praça bizarra. Nada de rap. Um calor terrível! Fui tomar uns cafés e ler um pouco. Chega de ler! Quanto da produção acadêmica não se limita à reciclagem do que foi lido? E de volta à praça, e nada novamente. Fui ao Frei Caneca e vi a Marcha dos Pinguins, que poderia chamar-se "Os Darwinistas também amam". Volto à praça, na esperança que com um pouco menos de calor escaldante meus objetos de pesquisa já se expusessem à minha análise. Nada. Fim de festa. Decidi mandar e-mails para os grupos de rap da revista. Mas que movimento de massa é esse que só se acha na Internet?

Friday, January 06, 2006

0, 1 and -1

- Are you sure?
- Yes. He has a 0/1 pattern.
- He is either your friend or he despises you. "1": he is your closest friend. You can trust him. "0", he doesn't even acknowledge your existence.
- This is cool. We could decribe his stream of relationships in a Boolean way.
- Exactly; that's the point. A digital relationship pattern. And the key skill is to switch from 0 to 1 and back again as fast as possible. Anything in the middle is just murky; quite dangerous indeed.
- And what about her?
- She is 1 or -1.
- That's worse?
- Not necessarely. To be sure, she has Schmitt in her heart. Her world is crowded with friends and foes. Nothing in between. At least she will never forget that you exist.