A Trane

Train of thoughts. A-Train. Coltrane. A Trane.

Monday, January 23, 2006

Em busca do rap - Parte I

Me contaram que o hip-hop é o movimento social urbano de maior expressão hoje em dia. E ouvi falar que tem há ver com a periferia. Mas aonde está a periferia? Fui à zona leste. Fui até Itaquera, quase Miguel Paulista. Vocês lembram. Era periferia: ruas mal asfaltadas, os carros meio caindo aos pedaços estavam misturados com carros do ano. Sobradinhos que durante o dia você não dá nada, à noite abrem botecos e lugares para dançar. Escutei muito forró. Parei perto do Sesc Itaquera, mas era um bar de easy-riders. Mesmo. Nada de rap.
Lendo uns artigos de jornal, me dei conta que havia muito rap no ABC. Fui para São Bernardo. A entrada de SBC expõe casebres paupérrimos. Tijolos à vista, arquitetura irregular, a mesma visão já consagrada no cimena nacional. Mas você o que se espera ver quando se vai de sopetão a uma cidade? Você vai ao centro e espera ver placas verdes colocadas pela prefeitura, dizendo "RAP, à direita", ou "AQUI: PERIFERIA + RAP", ou "PEDÁGIO: Antropólogos e afins pagam R$ 3,50". No centro de SBC, vi apenas lojas, shopping center, aquela doce melancolia de uma cidade quase capital. No shopping center, vou a uma loja de CDs: onde posso ver um show de Rap? Não se toca mais rap em SBC.
Esqueço o assunto por um tempo. Por umas semanas para escrever a tese. Na sexta passada eu fui a uma janta na casa de uns amigos em Perdizes e parei numa banca de jornal para fazer hora. Encontrei uma revista de hip hop na banca. A revista, já na 32a edição. Comprei. Folhava e folhava. Sites de grupos de rap, e-mails para contratar para show, mas não havia anúncios de shows. Havia muitas propagandas de lojas de roupa, e a maioria no Braz. No dia seguinte, peguei meu carro e fui ao Braz. Esperava encontrar o "cluster industrial" do rap. Mas era igual à 25 de março! Tinha até loja de granfino. E as lojas que eu procurava estavam fechadas. Peguei novamente o meu carro, e fui para a Praça Roosevelt. Cheguei lá umas 14. Só dava eu, e mais uns gatos pingados dormindo sob as poucas sombras naquela praça bizarra. Nada de rap. Um calor terrível! Fui tomar uns cafés e ler um pouco. Chega de ler! Quanto da produção acadêmica não se limita à reciclagem do que foi lido? E de volta à praça, e nada novamente. Fui ao Frei Caneca e vi a Marcha dos Pinguins, que poderia chamar-se "Os Darwinistas também amam". Volto à praça, na esperança que com um pouco menos de calor escaldante meus objetos de pesquisa já se expusessem à minha análise. Nada. Fim de festa. Decidi mandar e-mails para os grupos de rap da revista. Mas que movimento de massa é esse que só se acha na Internet?

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