A Trane

Train of thoughts. A-Train. Coltrane. A Trane.

Friday, January 27, 2006

O Discreto Charme do Chakras

No dia 24/1 fui ao Chakras, lá no Jardins. Fuja. Sabe, você conhece a teoria da sociologia econômica: firmas que atingem um status mais elevado podem se dar ao luxo de aumentar os preços ou diminuir os custos de transação. O Chakras faz os dois. Os preços são elevados, conveniente para um lugar onde as identidades são "negociadas" e rapidamente hierarquizadas. E os custos de transação são baixos: uma hora e meia de espera pela comida, atendimento meia-boca. Você sabe, a velha lógica do "stacking together check-list requirements": (1) ponto, (2) arquitetura e decoração, (3) um cardápio bonitinho e (4) um pessoal "bonito" (branco e rico) e do "bem" (branco e rico). Acho que eles compraram um Plano Estratégico em algum site no google. Aliás, é o tipo de lugar que você entra e você sabe que existe um plano estratégico, mas não existe aquele fina costura entre os elementos que dão ao lugar uma identidade. Geralmente isso exige um olhar paciente e minucioso, muito além de um plano estratégico. Um restaurante, um lugar que realmente dure deve buscar aquela autenticidade que é (quase) impossível de fabricar. Autenticidade fabricada - boa! O meu ponto é: o lugar é fake. Poucos são os lugares mais requintados que não sejam fake (óbvio: modismo e rápido retorno fazem um casamento tremendo). Mas por que se deixar levar pelos mais oportunistas que tem por ai? Ainda assim, se o melhor amigo da sua irmã insistir em te convidar para ir ao Chakras, exija a parte superior, ao céu aberto. É o melhor ponto da casa. Bata o pé. Seja intransigente.

Monday, January 23, 2006

Em busca do rap - Parte I

Me contaram que o hip-hop é o movimento social urbano de maior expressão hoje em dia. E ouvi falar que tem há ver com a periferia. Mas aonde está a periferia? Fui à zona leste. Fui até Itaquera, quase Miguel Paulista. Vocês lembram. Era periferia: ruas mal asfaltadas, os carros meio caindo aos pedaços estavam misturados com carros do ano. Sobradinhos que durante o dia você não dá nada, à noite abrem botecos e lugares para dançar. Escutei muito forró. Parei perto do Sesc Itaquera, mas era um bar de easy-riders. Mesmo. Nada de rap.
Lendo uns artigos de jornal, me dei conta que havia muito rap no ABC. Fui para São Bernardo. A entrada de SBC expõe casebres paupérrimos. Tijolos à vista, arquitetura irregular, a mesma visão já consagrada no cimena nacional. Mas você o que se espera ver quando se vai de sopetão a uma cidade? Você vai ao centro e espera ver placas verdes colocadas pela prefeitura, dizendo "RAP, à direita", ou "AQUI: PERIFERIA + RAP", ou "PEDÁGIO: Antropólogos e afins pagam R$ 3,50". No centro de SBC, vi apenas lojas, shopping center, aquela doce melancolia de uma cidade quase capital. No shopping center, vou a uma loja de CDs: onde posso ver um show de Rap? Não se toca mais rap em SBC.
Esqueço o assunto por um tempo. Por umas semanas para escrever a tese. Na sexta passada eu fui a uma janta na casa de uns amigos em Perdizes e parei numa banca de jornal para fazer hora. Encontrei uma revista de hip hop na banca. A revista, já na 32a edição. Comprei. Folhava e folhava. Sites de grupos de rap, e-mails para contratar para show, mas não havia anúncios de shows. Havia muitas propagandas de lojas de roupa, e a maioria no Braz. No dia seguinte, peguei meu carro e fui ao Braz. Esperava encontrar o "cluster industrial" do rap. Mas era igual à 25 de março! Tinha até loja de granfino. E as lojas que eu procurava estavam fechadas. Peguei novamente o meu carro, e fui para a Praça Roosevelt. Cheguei lá umas 14. Só dava eu, e mais uns gatos pingados dormindo sob as poucas sombras naquela praça bizarra. Nada de rap. Um calor terrível! Fui tomar uns cafés e ler um pouco. Chega de ler! Quanto da produção acadêmica não se limita à reciclagem do que foi lido? E de volta à praça, e nada novamente. Fui ao Frei Caneca e vi a Marcha dos Pinguins, que poderia chamar-se "Os Darwinistas também amam". Volto à praça, na esperança que com um pouco menos de calor escaldante meus objetos de pesquisa já se expusessem à minha análise. Nada. Fim de festa. Decidi mandar e-mails para os grupos de rap da revista. Mas que movimento de massa é esse que só se acha na Internet?

Friday, January 06, 2006

0, 1 and -1

- Are you sure?
- Yes. He has a 0/1 pattern.
- He is either your friend or he despises you. "1": he is your closest friend. You can trust him. "0", he doesn't even acknowledge your existence.
- This is cool. We could decribe his stream of relationships in a Boolean way.
- Exactly; that's the point. A digital relationship pattern. And the key skill is to switch from 0 to 1 and back again as fast as possible. Anything in the middle is just murky; quite dangerous indeed.
- And what about her?
- She is 1 or -1.
- That's worse?
- Not necessarely. To be sure, she has Schmitt in her heart. Her world is crowded with friends and foes. Nothing in between. At least she will never forget that you exist.